Nos últimos meses, a discussão sobre o avanço da Inteligência Artificial na educação tomou conta de eventos, redes sociais e rodas de conversa entre educadores.
A pergunta mais comum é direta: “A IA vai substituir os professores?”
Mas talvez essa nem seja mais a pergunta mais urgente.
O verdadeiro risco não é a IA ocupar fisicamente o lugar do professor.
O risco é o professor começar a ensinar como uma IA.
O que significa “ensinar como IA”?
Significa reduzir o processo de ensino a uma simples entrega de conteúdo.
Significa preparar aulas focadas apenas em:
🔹 Repetição de informações
🔹 Execução de tarefas padronizadas
🔹 Correção de respostas certas ou erradas
🔹 Ritmo acelerado, com foco apenas em desempenho mensurável
Pior: significa eliminar da sala de aula aquilo que só um professor humano pode fazer — olhar, escutar, interpretar o que não é dito, criar perguntas que provocam, lidar com o inesperado e construir sentido a partir das relações.
Ensino ou programação?
Quando reduzimos a docência a uma sequência de comandos e respostas pré-programadas, estamos nos aproximando demais do que a IA já faz com excelência: automatizar.
E aí, a pergunta inevitável é:
👉 Se o ensino é só transmissão de conteúdo e correção de tarefas… então, pra quê professor?
Esse tipo de prática apenas reforça o argumento de que tecnologias podem substituir a figura docente.
O problema não é a IA.
É a lógica de ensino que, há anos, vem se desumanizando.
Educação: um espaço de pensamento, não de automatização
Autores como Vygotski, Galperin e Leontiev já nos alertavam: o processo de aprendizagem não é só sobre absorver informações.
É sobre formar pensamento.
É sobre promover deslocamentos, gerar conflitos cognitivos, estimular o aluno a construir sentido e significado.
A educação é um espaço de elaboração da consciência, não de reprodução de respostas.
Em tempos de IA, isso ganha ainda mais urgência.
📌 Uma boa aula não é aquela que entrega tudo pronto.
📌 É aquela que faz o aluno pensar, questionar e duvidar.
É a aula que deixa perguntas no ar.
É a que provoca silêncio reflexivo.
É a que gera incômodo criativo.
O que a IA não faz — e talvez nunca fará
Por mais avançados que sejam os algoritmos, há dimensões da prática docente que seguem intransferíveis:
- O olhar atento ao que não é dito
- A capacidade de criar perguntas certas na hora certa
- A leitura emocional da turma
- A construção de vínculos
- A gestão de conflitos
- A mediação ética e humana dos processos de aprendizagem
Nenhum chatbot faz isso. Nenhuma plataforma entrega isso.
O convite: reumanizar o ensino
O maior antídoto contra a substituição da docência é o que a Escola de Professores defende todos os dias: formar professores pensantes, críticos, criativos, instigadores de perguntas.
Se queremos uma educação transformadora, precisamos ser tudo aquilo que a IA não é: humanos, reflexivos e provocadores de pensamento.
Porque, no fim das contas:
O perigo não é a IA substituir o professor.
O perigo é o professor se tornar uma IA.
Leve essa discussão para a sua escola. Conheça essa e outras palestras que realizo, CLICANDO AQUI.