Você dormiu bem, mas acordou exausto.
Você passou o fim de semana corrigindo provas, planejando aula, preenchendo relatórios… e ainda assim se sente em dívida.
Você já se sentiu culpado por descansar?
Se respondeu “sim” a qualquer uma dessas perguntas, você não está sozinho. A saúde mental dos professores nunca esteve tão comprometida — e não é por acaso.
Um cenário de esgotamento silencioso
Dados recentes apontam que a síndrome de burnout atinge mais de 60% dos docentes da educação básica no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os profissionais da educação estão entre os que mais adoecem mentalmente no mundo.
E o mais alarmante: esse adoecimento tem sido romantizado. Criou-se uma narrativa perigosa onde o “bom professor” é aquele que suporta tudo em silêncio, que se sacrifica, que aguenta firme, não importa o custo.
Quando o “cuide de si” vira armadilha
Você provavelmente já ouviu:
“Cuide da sua saúde mental.”
“Medite.”
“Faça ioga.”
“Respire fundo.”
Mas… quem está nos sufocando?
Não é que essas práticas não ajudem. O problema é quando elas substituem o debate estrutural, jogando sobre o indivíduo a responsabilidade de resolver um sofrimento que é coletivo, político e sistêmico.
Como explicam Dardot e Laval, no livro A Nova Razão do Mundo, vivemos sob uma racionalidade neoliberal que transforma tudo em performance. Somos levados a agir como “sujeitos-empresa”: sempre produtivos, sempre disponíveis, sempre nos cobrando por não sermos bons o bastante.
“Não é que estamos cansados porque trabalhamos muito… estamos exaustos porque trabalhamos contra nós mesmos, tentando performar num palco que não foi feito pra gente.”
A escola virou empresa — e a gente virou dado
Hoje, a escola se parece cada vez mais com uma planilha.
Metas, rankings, índices de aprovação, produtividade.
O aluno virou cliente. O professor, gestor de crise.
Essa lógica, denunciada por autores como Christian Laval (A escola não é uma empresa) e Joel Spring, transforma a educação em um produto — e o professor em um operador da máquina, encarregado de bater metas e entregar resultados.
Mas o que perdemos quando a educação se torna mercadoria?
O que acontece com a saúde emocional dos professores nesse ambiente onde tudo é medido, mas nada é sentido?
O sofrimento é um grito — não um fracasso
Se você está cansado, esgotado, à beira de desistir, saiba: isso não é sinal de fraqueza.
É sinal de que há algo profundamente errado no modo como temos vivido a escola.
“O corpo que adoece é o corpo que resiste. O cansaço é um grito político.”
Autores como Mészáros e Gentili nos lembram: o sofrimento docente é denúncia, não falha pessoal. É uma forma de resistência contra um sistema que desumaniza, que exige demais e oferece de menos.
Não queremos heróis. Queremos professores vivos
A saída não é individual. Não será uma meditação de cinco minutos que resolverá o vazio de um sistema que nos consome.
Precisamos transformar o sofrimento em linguagem e em laço.
Falar sobre o que sentimos. Criar redes de apoio. Escutar e ser escutado. Reencantar a docência — mesmo em meio ao caos.
“Reunir-se é um ato político. Conversar é resistir.”
Conclusão: o começo de uma nova narrativa
O problema não é o cansaço do corpo. É a exaustão da alma.
Tem algo muito errado quando a gente precisa se anestesiar pra continuar trabalhando.
E a maior armadilha do adoecimento é nos fazer acreditar que a culpa é nossa.
Mas não é.
Por isso, não aceite menos do que você merece. Vamos lutar e construir juntos:
- Espaços de escuta e acolhimento.
- Condições reais de trabalho.
- Tempo de ser gente — antes de ser professor.
Porque não queremos professores resilientes. Queremos professores vivos.
Conheça mais minha palestra sobre saúde mental dos professores clicando aqui. Caso queira levar esta conversa para a sua escola, me envie um e-mail para glaucoss@gmail.com