A saúde mental dos professores virou pauta nas reuniões pedagógicas.
Tem dinâmicas, tem ioga, tem meditação… e, às vezes, até uma mesa de frutas no intervalo.
Mas a pergunta incômoda permanece:
isso tudo muda mesmo alguma coisa?
Um sistema que adoece não pode ser curado com pausas pontuais
O problema não está em cuidar. Está em chamar de cuidado o que, na prática, é só distração.
Quando o professor está sobrecarregado, esgotado, invisível e pressionado a entregar mais com cada vez menos, oferecer “um momento de relaxamento” pode parecer quase um deboche — ainda que bem-intencionado.
O que precisamos não são ações simbólicas, mas mudanças estruturais, corajosas e até disruptivas na forma como as escolas organizam o trabalho docente.
Então o que fazer? Algumas propostas reais (e radicais):
1. Reduzir o volume de demandas inúteis
Antes de falar em saúde mental, a escola precisa falar em tempo.
- Para que serve esse relatório?
- Essa reunião precisa mesmo acontecer?
- O professor precisa preencher esse formulário ou é só controle disfarçado?
Toda hora economizada em burocracia é uma hora devolvida ao humano.
A educação precisa de menos papéis e mais presença.
2. Remunerar adequadamente — ou, no mínimo, reconhecer com verdade
Dinheiro não resolve tudo. Mas a ausência dele compromete qualquer tentativa de cuidado.
Enquanto o professor tiver que dar aula em três escolas para pagar as contas, qualquer discurso sobre autocuidado soa vazio.
E se o orçamento da escola é limitado, ainda há algo poderoso que pode ser feito: reconhecimento autêntico, concreto e coletivo.
Não é sobre elogiar. É sobre dar voz, escutar nas decisões, valorizar as escolhas pedagógicas.
3. Criar espaços reais de escuta e decisão compartilhada
Quando a gestão ouve o professor só para “validar” uma decisão já tomada, isso não é escuta — é teatro.
Saúde mental também é autonomia.
É poder pensar, propor, transformar junto.
A escola que quer cuidar precisa devolver aos professores o direito de serem sujeitos do processo, e não apenas peças de uma engrenagem.
4. Eliminar a lógica da performance a qualquer custo
Escola não é empresa. Educação não é entrega. Aluno não é cliente.
Enquanto o trabalho docente for medido por metas inatingíveis, rankings e avaliações de produtividade, o sofrimento vai continuar.
Uma escola saudável é aquela que entende que nem tudo que importa pode ser medido.
5. Construir comunidades de apoio, não de competição
Em vez de incentivar disputas (quem planeja melhor, quem inova mais, quem engaja mais), a escola precisa cultivar laços coletivos de suporte.
- Formação coletiva com tempo para troca real.
- Roda de conversa entre docentes sobre o fazer pedagógico.
- Grupos de estudo que questionem o modelo vigente e proponham alternativas.
Não é só sobre conteúdo. É sobre criar comunidade, onde o professor não se sinta sozinho.
Porque no fim das contas…
🗣️ “Professor saudável é aquele que sente que pode existir na escola sem ter que se desumanizar para isso.”
Saúde mental não é privilégio.
É condição básica para que o ensino aconteça de verdade.
E nenhuma política de bem-estar fará sentido se não mexer na estrutura que adoece.
A boa notícia? Ainda há tempo de fazer diferente.
Mas é preciso coragem — e vontade de romper com o que sempre foi.
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