O que mais precisa acontecer para a gente levar a saúde mental docente a sério?

Você já sentiu que a escola está te matando aos poucos?
Já percebeu que a pressão por resultados virou rotina — e que o cuidado virou discurso, mas nunca prática?

Na semana passada, uma professora morreu dentro da escola em que trabalhava, no Paraná.
Sim, você leu certo: morreu.

Silvaneide Monteiro Andrade, 56 anos, lecionava Língua Portuguesa no Colégio Cívico-Militar Jayme Canet. Ela passou mal durante uma reunião com a equipe pedagógica e não resistiu.
O sindicato aponta que Silvaneide vinha sofrendo pressão psicológica por metas associadas ao uso de plataformas digitais.
Ela morreu dentro da escola. E, sinceramente, isso diz tudo.

E se o problema não for o professor — mas o modelo?

Você prepara aula. Atende aluno. Preenche relatório. Cumpre meta digital. Participa de formação. Dá conta da vida pessoal.
E ainda sente que está devendo.

Tem algo errado com a forma como a gente está organizando o trabalho docente.
E não adianta dizer: “cuide de você”, “faça ioga”, “medite 5 minutos”.
A pergunta verdadeira é: quem está nos sufocando?

Cuidado sem estrutura é abandono disfarçado

O discurso do bem-estar virou muleta.
Nos dizem para “gerenciar emoções”, mas não nos perguntam o que está adoecendo a alma do professor.
A lógica neoliberal, como explica Christian Laval, cria sujeitos que se autoexploram, se comparam, se culpam — e se calam.

A escola virou empresa.
O professor, um índice.
O aluno, um dado.
O humano… ficou onde?

A dor da professora Silvaneide não é exceção. É sistema.

A morte de Silvaneide é uma tragédia.
Mas também é um grito coletivo silenciado todos os dias nas salas de aula do país.

Quem ensina com empatia sente no corpo a dor do outro.
Quem trabalha sem escuta, sem apoio, sem tempo, uma hora não aguenta.

Não é fraqueza. É denúncia.
O corpo que adoece está dizendo: não dá mais assim.

A escola que queremos não são indicadores apenas. É vínculo.

É urgente que as escolas parem de romantizar a resiliência e comecem a investir em relacionamentos humanos, escuta ativa e saúde institucional.
Não com dinâmicas vazias. Mas com estrutura, política, ética do cuidado.

O cuidado com a saúde mental docente não começa na meditação.
Começa no respeito às condições de trabalho, na gestão humanizada, na escuta real.

O que podemos fazer?

Não dá pra seguir fingindo que está tudo bem.
A educação adoece porque está cercada de exigência e abandonada de acolhimento.
Silvaneide não pode ser mais um número.
Ela é o sinal vermelho. O basta.

“Reunir-se é um ato político. Conversar é resistir. Criar espaços de apoio, de escuta e de partilha é começar a reencantar a docência — mesmo em meio ao caos.”


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