Não há dúvidas de que a escola precisa ser repensada. A cada ano, cresce a urgência de reformular esse espaço que ainda é central na formação de crianças e jovens para a vida em sociedade. Hoje, porém, a escola tem perdido significado — até mesmo para os alunos — e vem sendo empurrada para as margens da organização social.
Desde os anos 1980, com a revolução digital, e especialmente após o surgimento das redes sociais, dos smartphones e, mais recentemente, da inteligência artificial, o acesso ao conhecimento se horizontalizou. A produção do saber deixou de ser exclusividade da escola ou da universidade. Agora, ela também acontece (ou dá a sensação de acontecer) em vídeos do TikTok, nas falas de influenciadores, nas plataformas digitais empresariais.
Para a geração que cresceu no mundo pré-internet, isso pode parecer absurdo. Mas para quem nasceu com um smartphone na mão, essa mudança é natural. A autoridade de quem ensina já não está mais associada apenas ao professor — e isso muda tudo.
A pandemia de COVID-19 escancarou essa transformação. Forçados ao ensino remoto, alunos e professores precisaram se adaptar rapidamente ao aprendizado via telas. Plataformas, videoaulas e ferramentas digitais tomaram conta da experiência educativa. E, com isso, ficou claro que é possível aprender fora da escola — no próprio ritmo, com recursos personalizados e, muitas vezes, de forma mais envolvente.
O retorno às salas de aula foi marcado por desânimo. Muitos estudantes já não viam sentido em voltar ao modelo antigo, com carteiras enfileiradas, aulas expositivas e provas padronizadas. Afinal, por que acordar cedo para ouvir passivamente um professor por horas, se é possível aprender de forma mais flexível, lúdica e individualizada, no conforto de casa?
Essa nova lógica assusta quem está acostumado ao modelo tradicional, mas para as novas gerações, o mundo físico e o virtual são indissociáveis. Eles criam laços, aprendem, trabalham e se relacionam por meio de telas. A IA, como o ChatGPT, vem apenas consolidar essa virada, oferecendo caminhos de aprendizagem cada vez mais personalizados.
A escola, nesse cenário, está em uma encruzilhada.

O entusiasmo cego pelas tecnologias passou, mas não há retorno possível ao mundo pré-digital. Fingir que a escola pode ignorar a revolução tecnológica é negar a realidade. A estrutura escolar baseada na lógica do século XIX — horários rígidos, disciplinas fragmentadas, obediência e repetição — não atende mais às necessidades de um mundo em constante transformação.
Hoje, não é apenas a forma de ensinar que precisa mudar. É a própria lógica da escola que precisa ser reinventada. As mudanças digitais não impactaram apenas instituições, mas a maneira como pensamos, nos relacionamos e produzimos conhecimento. Um novo mundo está sendo construído dentro da mente dos jovens — e a escola, se quiser sobreviver, precisa participar dessa construção.
O risco do fim da escola é real.
Se continuar insistindo em um modelo ultrapassado, a escola perderá relevância. O desinteresse, a evasão, os conflitos e até a violência dentro do ambiente escolar são sintomas de um modelo que já não faz sentido para muitos. Mais grave: corremos o risco de aprofundar a desigualdade. Se as plataformas digitais forem acessíveis apenas a uma elite, restará à maioria uma escola precária, com função quase assistencial — um depósito de crianças para que seus pais possam trabalhar.
Ou, no extremo oposto, a popularização dessas tecnologias pode levar à desmaterialização da escola como espaço de convívio e cidadania, substituída por um modelo hiperindividualista centrado na performance e no sucesso pessoal.
E o que sobra para a escola e para os professores?

Sobra tudo — desde que estejamos dispostos a mudar. Projetos pedagógicos precisam romper com o modelo centrado na exposição de conteúdos abstratos. Precisamos de currículos mais flexíveis, integrados, significativos. O espaço físico da escola também precisa ser reinventado: menos grades, menos divisórias, menos cara de prisão. Mais abertura, mais troca, mais humanidade.
A escola não é empresa. Não pode ser regida pela lógica da competição, do desempenho e da eficiência produtiva. Ela é espaço de convivência, de afeto, de construção coletiva. É onde se aprende a viver com o outro, a desenvolver habilidades sociais e emocionais, a pertencer.
Projetos como o Âncora, em Cotia-SP, mostram que é possível ressignificar a escola. Não se trata de rejeitar a tecnologia, mas de recolocar o humano no centro do processo educativo. A IA pode ser uma aliada — desde que a escola assuma sua função essencial: formar sujeitos inteiros, críticos, sensíveis, capazes de viver em sociedade.
Ou reinventamos a escola — ou ela deixará de existir.
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