Das tantas mudanças necessárias que o processo de ensino e de aprendizagem precisa passar, na minha opinião, a que mais precisamos de uma revolução total e, talvez a que menos gente tenha se debruçado sobre, é a avaliação.
Na esmagadora maioria das escolas, avaliamos o aprendizado dos alunos por meio de provas e notas, geralmente numéricas.
Temos um apego tão grande a provas e notas que, mesmo quando trabalhamos com metodologias ativas, continuamos a aplicar provas e notas. O que não faz nenhum sentido.
Assim como não faz sentido, em pleno século XXI, a aula ser apenas expositiva e informativa, não tem mais o porquê avaliar o aprendizado com prova e nota.
Vamos começar pela prova como instrumento de avaliação.
Prova é válida, mas temos que ter em mente que ela avalia apenas a capacidade de memorização do aluno. Por melhor que sejam as questões da sua prova, ela consegue avaliar apenas algumas habilidades do aluno.
Comecemos pela Taxonomia de Bloom, por exemplo. Veja quantas habilidades podemos trabalhar e avaliar no aluno. Quantas delas você consegue avaliar em uma prova tradicional? Poucas.
Já passamos da fase de ensinar apenas memorização de conteúdos. Isso era importante no século XIX e XX, em que as crianças e adolescentes não tinham acesso à informação.
Hoje não mais. A informação está na palma da mão. Quer saber a capital de um estado? Google it. Quer entender mais sobre o funcionamento do sistema circulatório, Chat GPT, vídeos no YouTube, simuladores 3D e por aí vai.
Hoje precisamos ensinar desenvolvendo múltiplas habilidades para além da simples memorização (ou decoreba) de conteúdos abstratos. Temos de ensinar a teoria aplicada na prática, no dia a dia do aluno, ajudando a desenvolver a criatividade, a criticidade e a solução para problemas do seu cotidiano.
Uma prova com perguntas e respostas já não dá conta disso tudo.
O segundo ponto crítico neste modelo de avaliação tradicional que temos são as notas, geralmente numéricas.
Me diga rapidamente: qual a diferença entre o aluno ter tirado 7,25 e 7,35 na sua prova?
Sejamos sinceros, esse preciosismo que muitos professores têm na correção das provas de nada serve.
A nota vira moeda de barganha dos alunos e entre professores e alunos.
Alunos não se preocupam com o processo de aprendizagem e sim com o “tirar nota”. Se tiram a média, já se dão por satisfeitos, porque alcançaram o mínimo que o sistema exige.
Se faltam alguns centavos de nota, choramingam e tentam de todas as formas conseguirem arrancar o que falta para terem o boletim azul.
Não há preocupação nenhuma com o que aprendeu ou deveria ter aprendido.
Lembremos: avaliação é processo, é meio, é o percurso e não o final.
Quando avaliamos com nota, estamos mais preocupados com o final, em alcançar um número para se livrar de problemas do que com o percurso da aprendizagem.
E quando, então, professores também usam da nota como barganha para conseguir colocar medo na turma ou ameaçar um ou outro aluno de que será mais “durão” na correção da sua prova se não prestar atenção?
Nem preciso falar que tudo isso está muito, mas muito equivocado.
Prova e nota não são instrumentos de tortura e punição, mas de avaliação.
Qual o significado que as avaliações têm na sua escola? Como os alunos enxergam as provas e as notas? Como os professores lidam com o fazer e corrigir as provas?
Tenho certeza que ninguém lida bem com todo esse aparato montado há tanto tempo e que ainda se perpetua nas escolas.
É chegada a hora de repensarmos o sistema avaliativo para outro modelo que não esse de provas e notas, rankings, eliminação e classificação.
Mas qual a saída então? Como avaliar o percurso de aprendizagem dos alunos se não for com prova e nota?
Pensando que no século XXI já não faz mais sentido ensinar apenas decorando conteúdos e conceitos e que, o principal é promover o desenvolvimento de competências e habilidades, o processo de ensino, então, passa a ser por meio de estratégias e metodologias em que o aluno vai pegar o conhecimento teórico ou a sua pesquisa teórica e aplicar em algo prático, como uma experiência de laboratório, um projeto, um experimento utilizando as ferramentas digitais ou as físicas de uma oficina Maker, por exemplo.
Ele vai receber um problema e, em cima desse problema, vai pesquisar, levantar hipóteses do porquê esse problema existe, pensar numa solução plausível, construir essa solução, testar para ver se resolve o problema e apresentá-la.
Veja, é um percurso extenso e trabalhoso. Em todo esse percurso, o aluno vai produzir uma série de coisas, ou melhor dizendo, uma série de evidências de aprendizagem. Por exemplo, ele vai produzir uma pesquisa prévia, vai traçar hipóteses, vai elaborar um projeto, vai fazer um protótipo, vai apresentar sua solução e por aí vai.
Cada evidência produzida, é um instrumento avaliativo. Você terá, ao longo do processo, um monte de instrumentos que mostram se o aluno compreendeu os conceitos teóricos e, mais que isso, se desenvolveu as habilidades que vc queria que ele desenvolvesse.
E como avaliar essa evidências produzidas?
Tem uma ferramenta que é ótima para esse tipo de instrumento avaliativo que são as rubricas.
A rubrica possibilita que você determine, antes de começar, o que você quer ver na produção dos alunos, colocando os graus de compreensão dos conceitos e de desenvolvimento das habilidades possíveis.
Você pode classificar esses graus de desenvolvimento de cada item como: “não desenvolvido”, “razoavelmente desenvolvido”, “bem desenvolvido” e “atingiu excelência”, por exemplo.
Então, em cada item que você vai avaliar para cada evidência produzida, há graus de desenvolvimento. Você vai marcar em que grau o aluno chegou naquele item daquela evidência.
Mas a rubrica não é o mais importante. O mais importante é o feedback que você fará após preencher e entregar a rubrica para cada aluno.
É essencial que ao final de cada etapa do projeto, você sente com o aluno para conversar sobre seu desenvolvimento e dê seu feedback. O que ele atingiu e o que falta desenvolver? Por que ele não conseguiu desenvolver? O que faltou?
Isso é essencial para que o aluno possa corrigir sua rota e se aprimorar ainda durante o percurso de aprendizagem e não somente ao final do bimestre ou trimestre, quando as notas já se fecharam e o estrago foi feito, como fazemos tradicionalmente.
Parece tudo muito complexo, porque não estamos acostumados com esse modelo de avaliação por evidências. Porém, garanto que é mais tranquilo para ambas as partes e mais eficiente avaliar assim do que por provas e notas.
Precisamos urgentemente acabar com esse círculo tóxico que virou o sistema avaliativo tradicional. Tóxico para alunos e para professores. Estamos todos estressados, esgotados e com crises de ansiedade por conta da pressão que se coloca em cima de avaliação por meio de notas.
Vamos juntos nessa revolução da avaliação?
Há mais de 10 anos realizo formações pedagógicas ensinando professores a repensarem as formas de avaliação da aprendizagem. Conheça minhas palestras e formações clicando aqui. Vamos conversar sobre como levar minhas formações para a sua escola? Entre em contato comigo pelo e-mail: glaucoss@gmail.com