Por muito tempo, o ensino de Matemática nas escolas brasileiras se apoiou em um modelo centrado na memorização de fórmulas e procedimentos. A lógica era simples: decorar, repetir e aplicar. Porém, quando olhamos para as demandas da vida cotidiana e para os novos formatos de avaliações externas, como o ENEM e os vestibulares da Unicamp e da Fuvest, percebemos o quanto esse modelo se tornou insuficiente.
A verdadeira função da Matemática na escola não é formar alunos que repetem cálculos mecanicamente, mas sujeitos capazes de pensar matematicamente, interpretar situações, levantar hipóteses e propor soluções.
O que significa pensar matematicamente?
George Pólya, em sua clássica obra How to Solve It (1945), já defendia que ensinar Matemática deveria significar, antes de tudo, ensinar estratégias de resolução de problemas. Para ele, a habilidade essencial não é “aplicar uma fórmula pronta”, mas formular perguntas, planejar um caminho, testar hipóteses e revisar resultados.
Nesse sentido, pensar matematicamente envolve:
- Analisar situações-problema e identificar quais informações são relevantes;
- Relacionar conceitos matemáticos com o mundo real;
- Construir raciocínios lógicos e justificá-los;
- Reconhecer e aprender com os erros, transformando-os em novas tentativas;
- Comunicar ideias matemáticas, utilizando linguagem formal e informal.
O papel do professor nesse processo
Como aponta Isauro Beltrán Nuñez (2015), o papel do professor não é apenas transmitir conteúdos, mas ajudar o aluno a pensar a partir deles. Isso exige mudanças profundas na prática docente. Aulas de Matemática que querem desenvolver o raciocínio precisam ir além da exposição e da repetição de exercícios.
Algumas ações possíveis incluem:
- Trabalhar com situações-problema abertas, que não tenham apenas uma resposta certa, estimulando a criatividade;
- Usar o erro como parte do processo, discutindo diferentes caminhos e estratégias de solução;
- Integrar a Matemática com outras áreas, mostrando sua aplicabilidade em contextos reais;
- Promover a argumentação em sala de aula, permitindo que os alunos expliquem seus raciocínios uns para os outros.
Como lembra Lorenzato (2006), “a Matemática deve ser vista como atividade humana, e não como um corpo pronto e acabado de verdades eternas”.
Matemática como formação do pensamento
Ao ensinar o aluno a pensar matematicamente, não estamos apenas preparando-o para uma prova, mas para a vida. Em um mundo que exige tomada de decisões rápidas, análise crítica de dados e capacidade de resolver problemas inéditos, a Matemática pode ser uma das maiores aliadas da formação integral.
Formar professores capazes de criar esse ambiente de aprendizagem é o desafio central. Uma formação docente voltada ao desenvolvimento do raciocínio é urgente, e precisa ser prioridade das escolas que buscam preparar seus alunos para os desafios do presente e do futuro.
Referências
- NUÑEZ, Isauro Beltrán. Ensinar a pensar: a construção da didática do pensamento. São Paulo: Cortez, 2015.
- PÓLYA, George. How to Solve It. Princeton University Press, 1945.
- LORENZATO, Sérgio. Laboratório de Ensino de Matemática na formação de professores. Campinas: Autores Associados, 2006.
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