Por que tantos alunos do Ensino Fundamental – Anos Finais parecem não pensar com autonomia?
Essa pergunta ecoa em salas de aula, reuniões pedagógicas e diagnósticos de aprendizagem.
“Eles não desenvolvem o raciocínio”, “não sabem justificar”, “decoram, mas não compreendem”. Essas são frases comuns entre professores, mas será mesmo que esses estudantes não sabem pensar? Ou será que não foram convidados a pensar ao longo da infância?
Vamos olhar para a teoria de Jean Piaget, mais especificamente para a terceira etapa do desenvolvimento cognitivo: o estágio das operações concretas, que ocorre aproximadamente entre os 7 e 11/12 anos.
🔎 O que são as operações concretas, segundo Piaget?
No estágio das operações concretas, a criança desenvolve a capacidade de organizar o pensamento de forma mais lógica e estruturada, desde que os objetos e situações estejam ainda dentro do seu campo de experiência direta. É aqui que ela começa a:
- Entender a noção de reversibilidade (se 3 + 2 = 5, então 5 – 2 = 3)
- Compreender a conservação de quantidade, volume e massa
- Realizar classificações e ordenações lógicas
- Perceber relações de causa e efeito concretas
- Assumir diferentes pontos de vista
Ou seja, a criança deixa de ser tão egocêntrica cognitivamente e começa a compreender o mundo com mais lógica e perspectiva.
🧱 O que isso exige da escola?
A escola deveria ser o lugar onde essas estruturas de pensamento são mobilizadas, ampliadas e aprofundadas.
Mas o que encontramos com frequência?
- Avaliações que cobram memorização de conteúdos
- Aulas com foco em reprodução e cópia
- Práticas que não exigem raciocínio, comparação, análise
- Pouco uso de situações-problema ou desafios reais
📌 O resultado? Estudantes que entram no 6º ano com pouca ou nenhuma capacidade de sustentar um raciocínio lógico, tomar decisões, resolver problemas simples.
E o mais preocupante: alunos conformados com a lógica da resposta certa, e não inquietos com a busca por sentido e compreensão.
🎯 Ensinar a pensar é mais do que ensinar a responder
É comum que se espere dos alunos a capacidade de pensar de forma autônoma no Ensino Fundamental – Anos Finais ou no Ensino Médio.
Mas essa autonomia não brota do nada.
Ela começa a ser construída lá atrás, no período das operações concretas.
É ali que se forma a base da argumentação, do pensamento hipotético, da capacidade de análise.
Se a criança passa esse período sem ser estimulada a pensar, ela não terá recursos para isso mais tarde.
O desenvolvimento foi subutilizado ou, pior, travado por práticas pedagógicas automatizantes.
🛠️ O que fazer, então?
Aqui vão algumas pistas para práticas docentes mais alinhadas ao estágio das operações concretas:
- Propor situações-problema reais e contextualizadas
— para que os alunos mobilizem conhecimento para além da memória. - Explorar o erro como possibilidade de aprendizagem
— o raciocínio é mais importante do que a resposta final. - Estimular o diálogo e a justificação das ideias
— perguntar: “por que você acha isso?”, “como chegou a essa conclusão?” - Valorizar classificações, comparações, transformações
— organizar, ordenar, experimentar e refletir sobre os processos. - Reconhecer a progressão do pensamento
— respeitar o tempo da criança, sem pressa de saltar para abstrações que ela ainda não domina.
💬 Conclusão: pensar dá trabalho, mas não pensar tem um custo maior
Jean Piaget pode parecer “ultrapassado” para alguns discursos da moda na educação.
Mas sua teoria continua nos lembrando de algo essencial: há tempos e modos específicos de aprender e quando a escola ignora isso, ela impede o desenvolvimento.
Se queremos alunos que pensem com autonomia, que tenham argumentos, que sejam autores de ideias, precisamos nos perguntar o tempo todo:
“Minhas aulas estão respeitando o desenvolvimento do pensamento?
Ou estão apenas cobrando comportamentos mecânicos?”
A infância é o tempo da construção do pensamento.
E a escola tem o dever de ser o lugar onde esse pensamento ganha forma, se move, se expande.
📚 Quer continuar refletindo sobre práticas pedagógicas que realmente transformam?
Siga a @escola.professores no Instagram e entre para o Círculo Escola de Professores no WhatsApp. CLICANDO AQUI.
Leve essa discussão para a sua escola. CLIQUE AQUI e conheça esta e outras formações que realizo.


