Há tempos assistimos ao adoecimento silencioso (e às vezes escancarado) de professores em todo o Brasil. Síndrome de burnout, depressão, crises de ansiedade, exaustão crônica. Os números não mentem: de acordo com dados da Fiocruz e do Dieese, mais de 60% dos docentes da educação básica já apresentaram algum sintoma de sofrimento psíquico relacionado ao trabalho.
E, mesmo assim, muitas escolas ainda tratam o cuidado com a saúde mental dos professores como um agrado. Como se fosse uma gentileza. Uma ação pontual da gestão “para descontrair”.
Mas a verdade é que não se trata de favor. É dever.
A NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1) do Ministério do Trabalho é clara: toda instituição tem o dever legal de garantir um ambiente de trabalho saudável, física e psicologicamente. Isso inclui identificar, mapear e prevenir riscos psicossociais, cuidar do clima organizacional e oferecer condições dignas para o exercício profissional.
O que tem levado tantos professores ao adoecimento?
O trabalho docente é, por natureza, uma atividade complexa. Envolve relações humanas, planejamento contínuo, capacidade de escuta, conhecimento pedagógico e sensibilidade para lidar com diferentes contextos e realidades.
Mas o que acontece quando, ao invés de oferecer condições para que esse trabalho aconteça com qualidade, a escola se transforma em um ambiente de sobrecarga e esgotamento?
É isso que temos visto:
- Jornadas exaustivas, com múltiplas funções e pouco tempo para planejamento
- Sobrecarga burocrática, preenchimento de relatórios e plataformas
- Exigência de constante inovação, mas sem investimento real em formação ou estrutura
- Clima de pressão por resultados, metas inalcançáveis e vigilância constante
- Falta de espaços de escuta, apoio ou acolhimento
E, para piorar, a cultura da romantização do “professor que dá conta de tudo”, que precisa estar sempre sorridente, animado, disponível. Um ideal inalcançável que só aprofunda o abismo entre o que se exige e o que se oferece.
O que as escolas podem (e devem) fazer?
Se é verdade que a responsabilidade não é apenas do professor, também é verdade que cabe às instituições criarem condições para que o trabalho docente aconteça com dignidade.
A seguir, algumas ações práticas que as escolas podem adotar para promover a saúde mental dos seus educadores:
1. Repensar o uso do tempo
Organizar melhor a carga horária dos professores, reservando tempo protegido para planejamento, estudo e correção. Reduzir reuniões sem propósito claro e atividades extracurriculares desnecessárias.
2. Reduzir a burocracia
Rever a quantidade de documentos e relatórios exigidos. Muitas dessas exigências não impactam o aprendizado dos alunos e só servem para sobrecarregar quem já está exausto.
3. Criar espaços de escuta e cuidado
Promover rodas de conversa com mediação qualificada, oferecer atendimento psicológico ou parceria com profissionais da saúde mental, desenvolver canais seguros para queixas e sugestões.
4. Promover formações com sentido
Abandonar a lógica das “dinâmicas de motivação” e investir em formações que levem os professores a pensar sobre sua prática, com base em estudos, em reflexão crítica e troca entre pares.
5. Valorizar o coletivo
Estimular a cultura do apoio mútuo, do trabalho em equipe e da valorização da escuta. Quando a escola se torna um espaço de afeto e reconhecimento, o sofrimento se transforma em resistência.
6. Garantir condições físicas adequadas
Não dá para esperar bem-estar em escolas sem ventilação, sem espaços de descanso, sem equipamentos adequados. O ambiente físico importa e muito.
7. Rever expectativas e metas
As metas pedagógicas precisam considerar as realidades dos alunos, as condições de trabalho dos docentes e os limites humanos. Pressão desmedida gera culpa e frustração e adoece.
Uma escola que cuida de seus professores cuida melhor de seus alunos
Essa equação é simples: professor saudável ensina com mais intencionalidade, afeto e presença.
Cuidar da saúde mental docente é uma escolha ética, política e pedagógica. É assumir que a qualidade do ensino passa necessariamente pela qualidade das condições de trabalho.
Por isso, a minha palestra “E minha saúde mental, como é que fica?” propõe uma conversa profunda e provocadora sobre os caminhos possíveis para transformar essa realidade.
Se você é gestor(a), coordenador(a), mantenedor(a) ou responsável pela formação de professores, te convido a conhecer essa proposta.
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Vamos juntos construir escolas onde o professor não precise ser herói, apenas humano.


